sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Brincando de cena

No penúltimo dia de trabalho, os meninos começaram a trabalhar sem mim. Durante a primeira hora, prepararam os workshops da cena IV.3 que pedi para eles ontem. Dividi dois grupos, um com os meninos, outro com as meninas, ambos fazendo os nobres da peça (Rei Ferdinando, Biron/Berowne, Longaville e Dumaine). Coloquei o Jefferson como coringa, fazendo o Cabeção nas cenas dos dois grupos. Para cada grupo, propus um espaço diferente do Vila Velha. Para ambos, escadas.

Assim que cheguei, fomos às cenas. A cena é longa, tem alguns solilóquios bem compridos, em especial um do Biron, em que ele advoga pela inocência deles na quebra do juramento. Depois de um primeiro momento de performances individuais, seguido por fragmentos de cenas feitas em duplas, chegamos agora a um primeiro experimento de uma cena completa. E não de qualquer cena, mas da principal cena da peça, a mais espirituosa e inteligente.

Na avaliação que fizemos posteriormente, percebemos que, além das dificuldades em trabalhar com o texto em cena, dois vetores devem ser levados em consideração para conseguirmos fazer um bom trabalho neste processo: equilibrar ritmo com sentido do texto. Também conversamos bastante sobre as dificuldades em manter o jogo vivo enquanto não se está lendo. Diferente do que acontece em cena, a relação do ator que está lendo é primeiramente com o próprio texto (objeto), para em seguida estabelecer relação com outros atores. Levantamos a necessidade de se criar movimentos coletivos para reações ao que se está falando. Definitivamente, a lógica do jogo é diferente neste tipo de trabalho que estamos fazendo; Não podemos brigar contra as limitações que a leitura e o papel na mão apresentam, precisamos encontrar formas de usar a nosso favor, sem que sentemos todos em cadeiras no palco e façamos uma leitura dramática convencional e chata.

No geral, fiquei feliz com os exercícios. As leituras foram bem dinâmicas, com uma correção que mostram a evolução da relação dos atores com o texto. Ainda há muito a ganhar no sentido do texto, em especial nas filigranas que a leitura mais superficial esconde. Mas é notável o avanço que tivemos. Amanhã fecharemos esta primeira etapa. Vamos fazer o restinho da análise do texto, que não conseguimos fazer hoje, e fazer uma leitura corrida ao final. Lá, acredito que conseguiremos visualizar de forma mais palpável o quanto crescemos nestes nove dias, repetindo o trabalho do primeiro dia. E vontade de que março chegue logo!

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