sexta-feira, 6 de março de 2009

Relato dia 02

Salvador, 03 de março de 2009.
Relato do segundo dia de trabalho com a “Outra Cia de Teatro” e o Grupo “Clowns de Shakespeare” no teatro Vila Velha.

No segundo dia de trabalho começamos mais uma vez com um breve alongamento individual. Depois de um alguns instantes Fernando assume e faz um alongamento mais focado para a estrutura vocal, trabalhando principalmente os músculos do pescoço. Na seqüência Marco França trabalha alguns ressonadores: “Rrrrrrrr” (língua solta e vibrando com a saída do ar) “Bruuuuu”, Zzzzzzz, e por fim, “hummm” ou “raming” (solta pelo nariz, de boca fechada, até provocar o ressonador nasal). A cada ciclo, marco que conduzia no violão, subia a escala em meio tom. Todos faziam a dinâmica no tempo proposto pela música e buscando o mesmo timbre.

Após os ressonadores Marco puxou a música “Mané Pipoca”. Essa canção é bem interessante pois consiste em ordenar todas as sílabas do nome “Mané Pipoca”, primeiro na seqüência da escrita e posteriormente de traz para a frente:

Eme, a, ma,
Ene, é, ne,
Pê, i, Pi, Mane Pi,
Pê, o, pó, Mane Pipo,
Cê, a Cá, Mane Pipoca.

Ca, a Ca,
Pê, o, pó, capo,
Pê, i, Pi, Capopi,
Ne, é, ne, Capopi Ne,
Me, a, má, Capopi Nema.


Pode parecer uma canção simples, mas acaba por obrigar a todos a pensarem enquanto cantam, ativando corpo e cérebro. A música acaba por suscitar uma busca pelo acerto que remete a uma total prontidão, comprometendo corpo e mente. É simples, mas eficiente, principalmente para os que ainda não memorizaram a letra.

Depois Marco conduz outra música dentro da mesma proposta. Primeiro faz que a turma aprenda uma melodia a partir da seguinte letra:

Quando eu digo sim, você diz não,
Sim, sim, sim
(e a turma responde)
Não, não, não.

Quando eu digo sol, você responde lua,
Sol, sol, sol.
(e a turma responde)
Lua, lua, lua.


Depois vai acrescentando vários contrários: quente e frio, bota e tira, duro e mole... E a turma sempre respondendo o contrário. Até que em certo momento começa a misturar palavras e a turma, ainda assim, precisa manter-se firme na respostas dos contrários.

Sol, sim, frio.
(e a turma responde)
Lua, não, quente.


A dinâmica acaba por gerar muitas confusões, descontraindo a turma, mas sem desobrigar-se do raciocínio e da prontidão.

Depois da rodada coletiva um a um é chamado à sabatina individual, tendo que expor sua capacidade de raciocínio ao tempo da música.

Encerrado o momento musical Fernando pergunta ao pessoal da “Outra” se eles têm o hábito de trabalhar algum exercício para aquecer e energizar a turma, algo equivalente ao “vilão” (atividade que trabalhamos ontem). Após alguns segundos de indecisão Vinício propõe o “Caboré”. Segundo o proponente da brincadeira trata-se uma dança indígena, e pelas caras dos colegas da “Outra” percebemos que não foi uma idéia muito bem aceita. Logo saberíamos por quê.

A dança começa com todos em formação circular, trocando as pernas como tesoura, primeiro à direita perpassa a perna esquerda e depois ao contrário. A inversão é sempre acompanhada de um pequeno salto e os braços ficam sempre erguidos na altura do ombro e dobrados para frente na altura do cotovelo em 90°.

Enquanto se executa a dança se canta uma música qualquer, no caso Vinício sugeriu a música que trabalhamos ontem porque se sabia que era do domínio de todos.

Vento que venta não venta,
Mar que urra não urra,
Atrás de mim não vem gente, oh meu deus,
Quem é que tanto me empurra.*


Seguindo orientações de Vinício, vocalizamos apenas umas duas vezes, depois disso passamos apenas a ressonar a melodia. A dificuldade estava em manter a musica apenas ressonando junto com um movimento extremamente exaustivos. A música deixava pouquíssimo tempo para a respiração enquanto o corpo, em total atividade, pedia um farto e constante fluxo de ar.

Depois seguimos em fila indiana, mantendo o mesmo movimento e música. Em fila indiana alternamos as pernas enquanto passávamos sobre um cabo de vassoura colocado no chão. Por último, novamente em formação circular, uns desafiavam os outros ao centro da roda, de dois em dois. Ainda sobre orientação de Vinício, quando eram dois homens o espírito no centro da roda era de rivalidade, Quando era homem e mulher e clima era de cortejo.

Fernando então reassume a turma e pede para que apresentemos os Workshops que cada grupo preparou antes desse primeiro com os integrantes dos dois coletivos. Começamos pela “Outra” que apresentou a primeira cena do primeiro ato. Eles mostraram boa afinação e desenvoltura. Foi perceptível que eles ensaiaram e fizeram a tarefa de casa direitinho.
Depois fomos nós. Abrimos com a música que marco propôs: “Princesa”, de Amado Batista. A leitura até que foi boa, mas acho que jogamos pouco entre nós. Fica sempre aquele sentimento de que poderia ter sido melhor.

Como ultima atividade do dia (ou da noite), fizemos nossa primeira leitura com os dois grupos juntos. Lemos a primeira e segunda cena do primeiro ato. O grande destaque fica para Dom Armado, na leitura de Luiz, e para Meio-quilo, na leitura simultânea de Rita e Camille. Seguindo orientações de Fernando Armado ficou com um leve sotaque castelhano canastrão, e Meio-quilo parecendo uma dupla siamesa digna dos melhores (ou piores) freakshow.

* Canção que foi passada ao Grupo Clowns por Lindolfo Amaral, do Grupo Imbuaça (SE), a partir de sua pesquisa de canções do folclore sergipano.

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