Quinta-feira, décimo dia desde que começamos os trabalhos por aqui. Uma rotina quase que estabelecida e que torna cada dia mais familiar, apesar da saudade de casa que começa a dar sinal de vida. Uma Bahia longe das fitinhas do Senhor do Bonfim, dos batuques, da ladeira do Pelô e dos acarajés, mas mergulhada no suor, na ralação e no prazer da troca. “Já” sei sair de casa (é assim que chamamos o flat que estamos hospedados esses dias) a caminho do TCA para almoçar e depois chegar no Vila SOZINHO!!! Uau!! Eu sou mesmo muuuito orientado!! Quando começamos a reconhecer na rua o lixo do dia anterior e a reparar naquela pedra solta na calçada, é hora de admitir que estamos praticamente em casa. Começo a me sentir íntimo e até gostar do calor da sala 2, depois de quatro dias de oficina trabalhando nesse espaço.
Nosso dia começa ainda fora do espaço oficial de trabalho. Quando posso ouvir mesmo que distante, o bater ansioso e tímido das castanholas de Manu. Um pouco depois no Cabaré, enquanto me atualizava no mundo virtual depois de longos dias sem acessá-lo, as irmãs quase que siamesas, Rita e Kiwi, digo, Tililim (bom, vocês já sabem) enquanto lutavam contra um Croissant Gigante que mais parecia um braço delas (e que só custa R$ 2,00 !!), estudavam os textos de MEIO-QUILO, definindo quem diria o quê. Isso ainda fruto do trabalho iniciado comigo no dia anterior.
Ao entrar na sala encontro Juniovsky (Juninho) com o violão, Vini ao piano e Cesar na sanfona tocando juntos a parte da canção final de nosso espetáculo. Sinto que estamos caminhando e que teremos uma sonoridade bem diversificada. Cada um vem se chegando e, alongando individualmente vai tomando o espaço. O chão hoje parecia ser o lugar da preferência da maioria de nós. Meu corpo acusa o cansaço acumulado nesses dias de oficina à tarde e TRABALHOS à noite. Dias puxados. Sim. É preciso coragem.
Após reforçar os motivos da ausência de ontem (finalização do projeto da Petrobras), Fernando ainda ressacado e levemente machucado da perna, levanta questões sobre figurinos, cenografia e reorganização espacial, propondo que conversemos num outro momento e separadamente para trazermos algumas idéias para amanhã. O tempo começa a pedir atenção especial. Restam apenas mais seis encontros até o dia de nossa leitura.
O momento inicial de hoje, que normalmente é dedicado a uma atividade de aquecimento coletivo, resumiu-se a um breve jogo que aprendemos com o Márcio Marciano, onde saltamos em conjunto, enfileirados com um giro no último salto e mantendo constante a pulsação. É interessante observar que não demora para que o exercício consiga nos colocar dentro do jogo, trabalhando juntos. É o reflexo prático de que estamos em sintonia, timbrados. Eu e Fernando agregamos esse exercício no repertório dos jogos utilizados nas oficinas que damos. Eu o chamo carinhosamente de SALTOS MARCIANOS. Uma homenagem ao amigo Lapadiano.
Rapidamente fomos ao texto. Catamos algumas cadeiras disponíveis para experimentarmos outra possibilidade de disposição na área cênica. Depois de nos situarmos nesse novo espaço, tirarmos algumas dúvidas (praticamente só eu as tive em relação a isso) retomamos a leitura do início do texto. Novas coisas surgiram, outras se perderam. Dá vontade de repetir, repetir, limpar, repetir...mas não podemos nos dar esse luxo. Não agora nessa etapa do processo. Não podemos perder o foco e o objetivo desse trabalho. O texto deverá ser o grande protagonista da noite. Não há tempo. Mas é necessário que seja assim. Principalmente no início, para que cheguemos na célula mãe que dará a cara da nossa leitura.
Algumas vinhetas musicais começam a ganhar forma à medida que o texto é lido. Uma dificuldade aparente: dar vida ao jogo de cena e manter a fluidez da leitura. É necessário equilibrar e dosar o olho no texto e no outro. A hora avança e mais uma vez Manu e seu Holofernes terão que esperar até amanhã. Enquanto isso, as castanholas usadas para os momentos do espanhol Armado exigem mais ralação. Pobre senhor Santiago (pai de Manu).
O cuco anuncia a chegada das dez horas. “Como esse canto irrita o ouvido dos DESEPERADOS”. Apesar do cansaço a vontade é de ficar um pouco mais. E um pouco mais ficamos alguns para finalmente fecharmos a cena 1 do Ato 4. Depois de algumas cabeçadas do cabeçudo Cesar e após muita risada, fechamos ao que parece, um terço da leitura.
Rumo à Batcaverna (como chamamos o depósito do Vila que nos coloca a dez passos de casa) seguimos em frente, esperando, quem sabe dormindo, mais um dia de labuta. E que venha a sexta-feira 13. Buuuuuuuuuuu!!!!
Marco França
quinta-feira, 19 de março de 2009
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